27 de abril de 2008

Cuba, China e o "Mal da Discussão Desfocada"

O que a mídia não conta...

...Graças à engenhosidade dos cubanos, aos esforços que contaram com o apoio da população e às novas relações comerciais com países como a Venezuela e a China, Cuba dispõe de uma economia mais forte e conseguiu resolver seu problema energético. Graças à “Revolução energética”, lançada em 2006, que consistiu em substituir as lâmpadas e os antigos eletrodomésticos, como televisores, refrigeradores, ventiladores e outros aparelhos elétricos, por produtos mais modernos cujo consumo é menor, milhões de cubanos foram beneficiados por toda uma gama de produtos eletrodomésticos novos com preços subvencionados pelo Estado, ou seja, abaixo de seu valor de mercado.

Atualmente, a economia de energia que foi conseguida permite enfrentar a demanda da população, o que explica a eliminação progressiva das restrições quanto à aquisição de novos aparelhos eletrodomésticos, computadores e outros, como reprodutores de vídeo. Assim, os cubanos têm acesso a uma seleção mais ampla de bens de consumo. Portanto, as limitações tinham como explicação apenas um fator econômico, isto é, uma produção de energia insuficiente. A imprensa ocidental não se incomodou em abordar estes elementos ao tratar do tema.

A mídia apressou-se em sublinhar, com razão, que muitos cubanos não poderiam ter acesso aos artigos à venda pelo valor de mercado devido ao seu elevado custo com respeito ao salário relativamente modesto vigente em Cuba. Não obstante, esta realidade concerne a uma parte imensa da população mundial, que vive na pobreza e cujas principais preocupações não são adquirir um reprodutor de DVD ou um microondas, mas, sim, comer três vezes por dia e ter acesso a saúde e educação, angústias inexistentes em Cuba.

Assim, segundo o último relatório da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO) sobre a insegurança alimentar no mundo, 854 milhões de pessoas em todo o planeta, entre elas 9 milhões nos países industrializados, sofrem de desnutrição. No continente americano somente três países já alcançaram os objetivos da Cúpula Mundial da Alimentação 2015: Cuba, Guiana e Peru. Segundo a Unesco, atualmente, um de cada cinco adultos no mundo não é alfabetizado, ou seja 774 milhões de pessoas, e 74 milhões de crianças carecem de escolas. Segundo a Unicef, a cada dia mais de 26.000 crianças menores de cinco anos morrem de fome ou de doenças curáveis, ou seja 9,7 milhões de crianças por ano. Nenhum cubano faz parte destas listas...


Confira a matéria completa pelo link abaixo.

Fonte: Agência Carta Maior

Revirando a Teoria diz...

Muito ainda será discutido e registrado pela grande mídia sobre povos como os chineses, indianos e cubanos. Aliás, para os chineses parece que já começou com as declarações de apoio aos Tibetanos e boicote aos eventos da tocha olímpica pelo mundo.

Vai ser imensa a dedicação da imprensa mundial em execrar o estilo de vida e a cultura chinesa de modo geral. O duro é começar engolir qualquer ladainha, tipo "chinês trabalha por qualquer miséria" ou "a China só cresce porque tem mão-de-obra barata", e por aí vai.

Mas então, quais as questões e assuntos que realmente devem ser debatidos??
Por exemplo:
1) Quais mecanismos a China utiliza para incorporar a gestão e a tecnologia das multinacionais?
2) Como o Estado Chinês atua na determinação das políticas fiscais e monetárias que regem essa economia que cresce, em média, quase 10% ao ano?
3) Como funcionam os instrumentos de distribuição de conhecimento e de renda na China?
4) Como se organizam e se relacionam o povo chinês? Será que o fato de serem budistas e confucionistas alteram seus princípios e suas manifestações culturais?

A verdade é que a mídia está e estará evitando uma discussão como essa. Isso, por opção mesmo, como já sabemos. Esse câncer costuma ser lembrado nos artigos do jornalista Luis Nassif e do geógrafo Elias Jabbour e aqui vamos nomeá-lo de "Mal da Discussão Desfocada" ou, porque não, de "Doença da Discussão Desfocada".

Atinge quase a totalidade dos brasileiros. Na verdade, é crônica principalmente nas pessoas que costumam formar sua opinião embasados numa notícia da Globo, da Veja, da Folha, do Estadão e cia. Ou seja, quase o país inteiro. O "MDD" estraga todas as tentativas de entendimento e conciliação política entre amigos num bar, por exemplo.

Entretanto, é fato que a liderança econômica chinesa tende a se firmar em longo prazo. A capacidade do modelo de organização do povo chinês será posta à prova contra o modelo de desenvolvimento capitalista vigente. Talvez seja necessária uma nova roupagem, pois o debate capitalismo versus socialismo foi o mais prejudicado pelo "MDD", e as definições tanto de socialismo quanto de Estado Socialista perderam seu sentido original e hoje estão indissociáveis do socialismo da URSS. Falar em socialismo é lembrar daquela época e daquela história. Ninguém sabe o que veio antes nem depois, "...sabe-se que não deu certo, e pronto".

Daqui pra frente, vai ser comum a grande mídia caracterizar o modelo chinês como capitalista. É nesse momento que se faz necessário retomar as definições de mercado de exportações, socialismo de mercado e economia planificada. O modelo de crescimento da China pode ser muita coisa, mas simplesmente capitalista não é. A reforma agrária chinesa aconteceu na década de 70 com Deng Xiaoping. A infra-estrutura industrial foi armada já faz algum tempo, por meio de uma série de mecanismos de relacionamento interno e integração nacional. Mas o dado que fala por si é: das 500 maiores empresas chinesas, mais de 400 são estatais.

Haverá dedicação intensa da grande mídia em ocultar as características e as ações de caráter socialista que vêm sendo realizadas na China. Além, de aos poucos ir misturando definições básicas de uma discussão, assim torna-se impossível diferenciar conceitos simples como modelo de produção capitalista e modelo de produção para exportação. É esse mecanismo que fomenta o "MDD" nas pessoas e, até mesmo, em nossos amigos e parentes. O "MDD" é perigosíssimo, pode-se passar horas em debates calorosos sem resultar num aprendizado decente.

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