30 de março de 2008

...crise imobiliária é sim, crise de Crédito!



Os Estados Unidos e sua crise econômica

O sistema financeiro que conhecemos esgotou uma modalidade de rapina, desconhecida pela grande maioria do povo, mas que afeta a todos nós, apesar de não sabermos direito como funciona. Como disse Henry Ford: “É bom que o povo não entenda nosso sistema bancário e monetário, porque se entendesse, acho que haveria uma revolução antes de amanhã”.

1. Uma breve síntese histórica

Durante os felizes anos 1990, a expansão econômica parecia infinita e ia em dois sentidos, para a frente e para cima. O capitalismo tinha encontrado sua fórmula mágica “definitiva” para superar as crises – chamadas agora de recessões - manipulando os instrumentos financeiros que permitiam que os refluxos fossem relativamente breves e de baixo impacto. Em essência, a fórmula adotada no “Consenso de Washington” apelava para a abertura dos mercados, a liberalização absoluta do fluxo de capitais, a “inflação financeira” quase descontrolada e o controle dessas desregulamentações pelos instrumentos mundiais de controle (FMI e Banco Mundial).

É claro que ao longo dos anos 1990 houve uma seqüência de crises diversas – a dos “tigres asiáticos”, Rússia, Turquia, México - porém, as respostas para todas elas foi aplicar a fórmula mágica: injetar dinheiro em seus sistemas para que o jogo continuasse. E esse jogo, por sua vez, foi um imenso multiplicador do dinheiro, tanto do real quanto do fictício.

Nesse marco, os mercados de futuros cresceram como nunca. Com a abertura do NYMEX, em 1988, os Estados Unidos passaram a controlar o preço do petróleo, reduzindo assim os duros efeitos da crise petroleira de 1973 e gerando um mercado de futuros que expandiu a especulação e a injeção de dinheiro no sistema de forma massiva.

Paul M. Sweezy, em seu último trabalho, pouco antes de morrer, explica claramente a situação. Na verdade, Sweezy demonstra que a “expansão”, que ele analisa e critica duramente, já estava presente em todas as suas modalidades em meados dos anos 1980. Talvez o exemplo da origem da situação atual nos seja oferecido por um exemplo didático para aqueles que não somos economistas: vamos supor que um dono de loja deposita 1000 dólares no Banco A e desse depósito 800 dólares são emprestados e depositados no Banco B. “Agora, o Banco B tem um aumento em seus depósitos de 800 dólares, dos quais 160 são mantidos em reserva e 640 dólares são emprestados. A seqüência continua quando 512 dólares terminam entre os depósitos do Banco C, etc. O depósito inicial de 1000 dólares cresce, finalmente, para 5000 dólares”. Esse dinheiro na verdade não existe, os mil dólares iniciais são os reais, os 5000 finais, que supostamente estão no sistema financeiro, são fictícios, são produto da especulação.

Essa “bicicleta” de artifícios foi o que o capitalismo financeiro esteve fazendo desde meados dos anos 1980 e a queda do comunismo deu mais alento ao modelo, porque com ela ficava demostrado que o capitalismo era imbatível e que os EUA eram seu motor indiscutível. O “Consenso de Washington” foi a benção final para a abertura e para a globalização feroz, dando o aval “definitivo” para a especulação financeira como receita e solução dos problemas. Hoje sabemos que o fracasso é retumbante.

No meio deste processo, Alan Greenspan assume a presidência do Federal Reserve (FED) e se transforma, durante 18 anos, em guru da globalização e da expansão financeira e econômica mundial. Sua receita não foi muito diferente dos acordos do “Consenso de Washington” poucos anos depois, aplicando nos EUA a solução de promover uma seqüência de “bolhas”. A primeira em importância foi a bolha das “ponto com”. Uma suposta “nova economia”, baseada em bens intangíveis e na alta tecnologia, abria passagem a tal ponto que a Bolsa de Valores de Nova York criou um índice especial para avaliar sua cotação: o NASDAQ.

A bolha das “ponto com” estourou no final dos anos 1990. Muitas das empresas líderes entraram em crise terminal, a especulação financeira e as expansões de crédito fundadas nessas empresas afundaram e a “metal-mecânica” — a grande vencedora da Guerra do Golfo Pérsico, em 1990 — renasceu com força. Mas a solução de Greenspan foi rápida e simples: criar uma nova bolha.

De fato, a crise das “ponto com” foi solucionada com a manipulação das taxas de juros da FED. O Federal Reserve determina o valor do dinheiro por meio da taxa de juros que cobra dos bancos quando empresta ou entrega dinheiro. O valor dessas taxas determina o preço do dinheiro, ou seja, o juro cobrado pelos bancos quando oferecem créditos aos seus clientes. Assim, se a taxa da FED cai, os créditos também caem; se ocorre o contrário, as taxas dos créditos sobem. A “mão oculta do mercado” é, na verdade, a mão do presidente do banco central dos EUA.

Durante os últimos anos da década de 1990, o FED reduziu a taxa de juros aos seus índices mínimos históricos. A partir dessa época e até julho de 2004 os tipos de juros da FED eram de 1%. A razão? Injetar “dinheiro barato” no sistema financeiro para promover uma reativação após a crise provocada pela queda das “ponto com”. A injeção de “dinheiro fácil” expandiu o crédito e, com isto, o consumo e a economia teve uma reativação, mas criando uma nova bolha que relançou o sistema: a “bolha sub-prime” a dos “bônus hipotecários lixo”: a bolha imobiliária.

A injeção de dinheiro barato expandiu o crédito com baixas taxas de juros e a especulação financeira adquiriu novo fôlego, mas com uma modalidade “engenhosa”, dirigida ao mercado de hipotecas imobiliárias.

Quando a expansão do crédito imobiliário chegou ao seu ponto máximo, a banca dirigiu seus olhos aos setores que não possuíam moradia própria e que não tinham possibilidade de aceder a créditos. Estes são os pobres dos Estados Unidos, aqueles com baixa renda ou com um histórico de maus pagadores, que não tinham acesso às hipotecas porque representavam um risco muito alto. Mas agora, com a taxa de juros da FED em 1%, supostamente qualquer um podia pagar as hipotecas e o sistema financeiro lançou-se à caça daqueles que devido ao seu baixo nível de renda ou ao seu mau histórico só podiam ter acesso a créditos baratos. Assim, lançaram uma campanha de captação de clientes, oferecendo hipotecas com juro variável, com a expectativa de que as taxas da FED não iriam subir. O risco era enorme, os pobres podiam deixar de pagar se os juros subiam, mas essa era apenas uma hipótese, e certamente isso não ia acontecer.

Mas o risco existia e todo o mundo sabia disso. Conseqüentemente, para financiar as hipotecas de alto risco —“sub-prime”, ou seja, abaixo das melhores— e ficarem cobertas, além de para captar capital, as instituições financeiras lançaram no mercado uma série de bônus “sub-prime” respaldados por créditos hipotecários de risco. Dado o nível de risco, os juros que esses “bônus hipotecários lixo” pagavam eram altíssimos, em média de 30% ao ano. E para torná-los ainda mais “tentadores” jogaram uma carta ainda mais arriscada: conseguiram o aval das seguradoras de crédito.

Termine de ler a reportagem pelo link: Agência Carta Maior

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